Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 13/12/2018 às 14:14:06

o sacramento da confissão

O Advento tem como uma de suas características ser um tempo de perdão e reconciliação. Por isso, embora, se possa em qualquer dia do ano celebrar o sacramento da confissão, em nossas paróquias, nesta época do Advento, se organizam os chamados “mutirões” de confissão. Vários padres, ao entardecer e à noite, se colocam à disposição dos fiéis, para ouvir-lhes em confissão.
         Para celebrarmos com eficácia o sacramento da confissão, precisamos de algumas atitudes prévias. Sem elas, o sacramento perde o seu objetivo e até mesmo o seu efeito.
         A primeira atitude é sentir-se atingido pelo pecado. Acontece que para se ter a experiência de pecado é preciso fazer a experiência de Deus. Só faz experiência de pecado quem faz experiência de Deus. O mundo perdeu a consciência de pecado, porque perdeu a experiência de Deus, já dizia o Papa Pio XII em 1946, numa de suas radio mensagens. É do escritor russo Dostoiévski, em “Irmãos Karamazov” esta afirmação: “Se Deus não existe, tudo é possível”. 
Ao se ver na presença de Deus, o Profeta Isaías grita: “Ai de mim, estou perdido! Sou um homem de lábios impuros, e vivo entre um povo de lábios impuros” (Is 6,5). O Apóstolo Pedro, depois da pesca milagrosa, percebendo que estava na frente, não de um simples rabino, mas de alguém com poderes divinos exclama: “Afasta-te de mim Senhor, porque sou um pecador” (Lc 5,8).
         É assim mesmo, a luz da presença de Deus nos faz enxergar os nossos pecados, inclusive, as nossas fraquezas que nem pecados são. A escuridão da ausência de Deus em nossas vidas impede de percebermos os pecados, apesar de sua gravidade seriedade. 
         Outra atitude que se supõe, quando celebramos o sacramento do perdão é a prática da penitência. Não tem sentido celebrar o sacramento, também dito da penitência, se não formos pessoas habituadas ao exercício da penitência. Nossa celebração ficaria vazia.
         O Papa, São Paulo VI, em 1966, na Constituição Apostólica Paenitemini, assim se expressa: “Entre os graves e urgentes problemas que se apresentam à nossa solicitude pastoral, não nos parece ser o último o de lembrarmos o significado e a importância do preceito divino da penitência (nº.1). Um pouco antes, o Concílio Ecumênico Vaticano II havia afirmado: “A Igreja que é, ao mesmo tempo santa e necessitada de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação” (LG 8) “A penitência não seja somente interna e individual, mas também externa e social” (SC 110).
No AT a penitência aparece sempre acompanhada de conversão, desprendimento do pecado e volta para Deus (Bar 1,17-18; Jn 3,8)
No NT, Jesus ensina o valor da penitência a partir do seu exemplo. Passa 40 dias e 40 noites no deserto jejuando (Mt 4,2; Mc 1,13; Lc 4,1). Em seus discursos, não cessa de lembrar que seus seguidores deverão ser pessoas acostumadas à ascese e à penitência.
“Quem quiser ser meu discípulo renegue-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e me siga” (Mt 16,24; Mc 8,34; Lc 9,23).
“Aquele que não toma sua cruz, não é digno de mim” (Mt 10,38). 
“Se não fizerdes penitência perecereis todos” (Lc 13,3).
“Fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
A verdadeira penitência não pode abstrair-se da ascese física: “Se teu olho direito te escandaliza, arranca-o” (Mc 9,28; Mt 5,29). “Castigo o meu corpo...” (1Co 9,24-27). “Não satisfareis o desejo da carne...” (Gl 5,16).
Tanto a consciência de pecado, quanto a prática da penitência não tem eficácia em si mesmas se não forem acompanhadas da experiência de misericórdia. Somente a misericórdia nos faz voltar para Deus e nos motiva a mudar seriamente de vida. A misericórdia que vem de Deus tem a força de nos transformar de pecadores em santos. Tão grande é a força da misericórdia na vida dos cristãos que o Papa Francisco a define como “arquitrave que suporta a vida da Igreja”. E completando o seu pensamento, o Papa faz a seguinte constatação: “ Talvez, por muito tempo, tenhamos nos esquecido de indicar e viver o caminho da misericórdia. (...). & Eacute; triste ver como a experiência do perdão em nossa cultura está cada vez mais escassa. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança” (MV 10).


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