Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 31/07/2018 às 15:34:02

 Dia dos Padres

 

         Vamos iniciar o mês de agosto, dedicado à oração pelas vocações. Para cada domingo teremos uma intenção especial. No primeiro domingo, o próximo, vamos rezar pelos padres e pelos seminaristas que se preparam para serem padres.

         Mas, afinal, quem é o padre?  O padre recebeu de Deus a missão de ser profeta, sacerdote e pastor.

         Enquanto profeta, o padre deve ser um homem profundamente tocado pela Palavra de Deus, com a missão de pregá-la sem falsificação. Neste mundo, que já se acostumou com a mentira e a falsidade, é dever do padre anunciar a verdade.

Para justificar suas vidas embasadas na falta de verdade, as pessoas chegam até inverter os valores. No mundo de hoje é comum “ao bem chamarem mal e ao mal bem, as trevas transformarem em luz e a luz em trevas, o amargo mudarem em doce e o doce em amargo” (Is 5,20). Neste contexto de desvalores, ninguém confia em ninguém. O resultado é o “salve-se quem puder”, o desencadear de todo o tipo de violência. Quase todos os dias, vemos descrição de violências estampadas nas páginas dos jornais. A desigualdade social, uma das maiores violências e causa de tantas outras, cresce sempre mais. A paz vai ficando cada vez mais distante da realidade

Enquanto profeta e ministro da Palavra, o padre tem por missão construir a paz. A paz, no entanto, como lembra a Bíblia, só vai ser possível, no dia em que da “terra germinar a verdade” (Sl 85,12). O padre não pode ter medo de pregar a verdade, mesmo que o acusem de reacionário e antipático. Por exemplo, não pode deixar de proclamar a verdade sobre o matrimônio e a família. “Deixar de fazê-lo seria uma grave omissão pastoral que induziria as pessoas ao erro”. (S. João Paulo II, aos Bispos do Regional Leste 2 em visita Ad Limina). De fato, hoje em nosso país, assiste-se a uma campanha que tende a debilitar a verdadeira natureza da f amília.

O padre, enquanto profeta, tem a missão de aplicar a verdade perene do Evangelho às diversas circunstâncias da vida. Para tanto, vai ser necessário que conheça com um sentido crítico, as ideologias, a linguagem, os laços culturais, as tipologias difundidas através dos meios de comunicação e que, em grande parte, condicionam as mentalidades das pessoas de hoje (Diretório para o ministério e vida dos presbíteros n. 46). Deverá ter sempre em conta que o “ministério da Palavra não pode ser abstrato ou distante da vida, mas, pelo contrário, tem de entrar nas questões mais vivas que se colocam à consciência humana (Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros n. 45).< o:p>

O ministério do padre profeta, no entanto, só será eficaz, se estiver firmemente fundado sobre uma profunda experiência de oração. Da meditação da Palavra de Deus e da oração pessoal brotará espontaneamente o testemunho de vida que faz descobrir a potência do amor de Deus e torna persuasiva a palavra do padre profeta. Fruto também da oração pessoal é uma pregação incisiva e sem medo, não somente em virtude de sua coerência especulativa, mas porque nascida de um coração sincero, que reza, consciente de que a tarefa do padre é ensinar não a sua sabedoria, mas o Verbo de Deus e convidar a todos com insistência para a conversão e a santidade.

A oração não nos afasta dos compromissos, pelo contrário, nos engaja sempre mais. A oração nos faz semelhantes a Moisés que frequentemente entrava e saía da Tenda. Dentro se alegrava na contemplação. Fora se apressava em atender as necessidades dos que sofriam. Dentro meditava os segredos de Deus. Fora carregava os fardos dos pobres (Regra Pastoral, S. Gregório Magno).

Além da oração, do padre profeta se pede a virtude da misericórdia. São Paulo nos lembra que foi por misericórdia que fomos revestidos deste ministério (2Cor 4,1). Por isso, devemos exercê-lo por misericórdia e com misericórdia.

A misericórdia é a reação mais adequada e necessária diante do mundo e das pessoas sofredoras. Em vez de indignação, mesmo que seja ética, diante do sofrimento, a melhor atitude é a da misericórdia. Sem misericórdia não haverá compreensão de Deus, nem de Jesus, nem do ser humano.

“Movido de misericórdia” o pai do filho pródigo restituiu-lhe a dignidade de filho e de irmão (cf. Lc 15,20). O exemplo perfeito de homem, segundo Jesus, é o samaritano que “movido de misericórdia” socorre o necessitado à margem do caminho (Lc 10,30-37).

Que Deus abençoe os nossos padres para que sejam verdadeiros profetas, mestres da Palavra, sustentados pela oração e profundamente marcados pela misericórdia.

 

 

 

 

 

 


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