Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 28/09/2017 às 09:27:27

Anjos

Sexta feira, 29 de setembro, a Igreja católica celebra a festa de São Miguel, São Rafael e São Gabriel. Os três são Arcanjos. Quase em seguida, na segunda feira, 02 de outubro, celebra os Santos Anjos da Guarda.     

Em nossa Região o povo tem grande devoção a São Miguel. Ele é padroeiro de uma das seis paróquias da cidade de Cornélio Procópio. Aqui bem próximo, no município de Bandeirantes, foi dedicado a ele um grande santuário. Para ali acorrem grandes multidões de fiéis.

Nos últimos tempos tem crescido muito o culto aos Anjos. Multiplicam-se as publicações de livros, revistas e cantos. É grande também a produção de filmes e seriados em TV, inclusive em países com alta taxa de secularização como os Estados Unidos, onde 70% da população, numa pesquisa feita pela revista “Time”, declarou crer na existência de anjos.

Diante deste fenômeno é preciso ter muita cautela. Será este um sinal saudável de volta aos valores espirituais em oposição ao excesso de materialismo reinante, ou é uma tendência doentia e superficial com sabor de esoterismo?

Para nós católicos a existência dos anjos é uma verdade da fé. Não faz parte, porém, da centralidade da fé. Por isso o culto aos Anjos, sem ser negado, deve ser moderado. Neste sentido São Paulo já alertava os fiéis de Colosso: “Que ninguém, a pretexto de humildade e culto aos anjos, vos impeça de alcançar a vitória. Tais pessoas baseiam-se em pretensas visões, deixando-se ingenuamente inchar de orgulho por sua mente carnal”(Cl 2,18). Para não dar aos anjos mais importância do que lhes é devida, é importante ter bem claro o que a Igreja católica ensina a respeito deles.

O Salmo 103 em seu versículo 4 reza: “Faz dos espíritos os seus anjos, e do fogo ardente seus ministros”.  Santo Agostinho comentando este versículo afirma: “Sabemos pela fé que existem anjos, e lemos nas Escrituras que muitos apareceram. Mantenhamos esta fé, e não nos é lícito duvidar disso”. A palavra anjo significa mensageiro. Por isso Santo Agostinho, no mesmo comentário esclarece: “Com efeito, os espíritos são anjos; enquanto espíritos, ainda não são anjos, mas ao serem enviados tornam-se anjos. Com o nome de anjo se designa o ofício, não a natureza. Perguntas o nome desta natureza? É espírito. Procuras saber qual o seu ofício? É o de anjo, mensageiro. Quanto ao que é, é espírito; quanto ao que faz, é anjo”.

O catecismo da Igreja católica, continuando o ensinamento de Santo Agostinho, afirma: “Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam “constantemente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10), são “poderosos executores da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra” (Sl 103,20). Enquanto criaturas puramente espirituais são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória”(CIC 329-330).

A liturgia de nossa Igreja recorda os anjos em diversos momentos. Durante a Missa, na aclamação do Santo nós nos associamos a eles. O Glória inicia-se com o canto que os anjos entoaram na noite de Natal diante dos pastores. No Ato Penitencial, quando rezamos o “Confesso a Deus todo poderoso...”, pedimos ao anjos e santos que intercedam por nós.  Quando encomendamos a Deus um agonizante dizemos: “Ao saíres desta vida, venham ao teu encontro a Virgem Maria, os Anjos e todos os Santos. Logo após o último suspiro diz-se: “Santos de Deus venham em seu auxílio; Anjos do Senhor correi ao seu encontro”. Nas exéquias dos fiéis, além de apresentar a Cristo Jesus, o irmão que partiu, pedimos a intercessão de Nossa Senhora, dos Santos e também dos Anjos.

“Santos de Deus, vinde em seu auxílio: anjos do Senhor correi ao seu encontro! Cristo te chamou. Ele que te receba e os anjos te acompanhem ao seio de Abraão”.

Nos dias solenes cantamos o Te Deum e unimos os anjos ao nosso louvor. Ao rezarmos a ladainha de todos os santos, não nos esquecemos dos anjos. Na noite de Páscoa entoamos o exultet em companhia dos anjos. E ao terminar o dia, na oração da noite, recordamos que Deus ordenou os seus anjos para nos guardar em todos os caminhos.

Não se pode esquecer, porém, que o melhor culto aos anjos consiste em imitar suas atitudes. Por isso, a exemplo deles, somos orientados a colocar nossa vida no serviço contínuo e no louvor permanente a Deus (cf. Sl 103,20; Ap 5,11-12). Somos também incitados a ajudar os irmãos, protegendo-os de todo perigo, como fazem os anjos (Cf. 1Rs 19,5-7; Dn3,49). E ainda, inspirados na ação dos anjos somos convidados a ser mensageiros da boa nova da salvação (Cf. Gn22,11; Lc 1,26-38) .


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