Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 05/06/2019 às 16:55:55

Semana de Oração pela Unidade Cristã - Parte II

Estamos vivendo a Semana de Oração pela Unidade Cristã que, aqui no Brasil, acontece, nos dias que antecedem a solenidade de Pentecostes. O tema deste ano é: “Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt 16,11-20).
         Fui entrevistado sobre este evento. Na semana passada aproveitei a oportunidade deste encontro semanal para partilhar a primeira parte daquilo que falei. Nesta semana tenho alegria de continuar partilhando o que respondi na segunda parte da entrevista.

3 – O Senhor acha que, na prática, com essas ondas de violência, os cristãos das diversas denominações caminham para se fecharem mais ou para a unidade realmente? Uma questão foi..
Depende muito do grupo de cristãos. É evidente que um número significativo tende a se fechar e até se posicionar contra a Igreja católica e demais Igrejas abertas ao ecumenismo.
Existem, no entanto, muitas Igrejas e comunidades evangélicas dispostas a caminhar junto, testemunhando sua fé e seu compromisso em favor de um mundo de paz, solidariedade e fraternidade. O Conselho Mundial de Igrejas, por exemplo, em seus 70 anos de existência, tem dado um testemunho muito significativo de unidade cristã. Seus programas e ações estão firmados na convicção de que no mundo de hoje “as Igrejas são chamadas a confessar novamente a sua fé e arrepender-se pelo tempo em que os cristãos se mantiveram em silêncio diante da injustiça ou ameaças à paz. Aqui no Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) também tem dado um fo rte testemunho de unidade e de compromisso com a defesa dos direitos e da dignidade dos empobrecidos e excluídos da sociedade.

4 – Qual deve ser a atitude dos cristãos frente a luta por justiça?
R – A atitude do cristão de qualquer Igreja não pode ser outra, senão a de Jesus – acolher e cuidar de todos os injustiçados, empobrecidos e excluídos. Todo cristão individualmente considerado e enquanto membro de uma comunidade cristã está chamado a produzir frutos de justiça e de paz social. A advertência do Apóstolo Paulo é muito clara: “Cada um não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros” (Fl 2,4). No Antigo Testamento, a Sagrada Escritura testemunha que Deus indica quatro categorias sociais merecedoras de cuidado especial: o pobre, a viúva, o órfão e o estrangeiro (Dt 10,17-18). É claro que Deus, enquanto Pai, se preocupa com todos os seus filhos e filhas, mas os empobrecidos e excluídos recebem dele carinho e atenção especiais. Acolher e cuidar dos empobrecidos deve ir além das ações que atendem às necessidades imediatas e cotidianas das pessoas. Acolher e cuidar dos empobrecidos significa atuar diretamente nos fatores que produzem as muitas formas de injustiças. Para isso, a ação política passa a ser tão fundamental e profética quanto as ações assistenciais e de solidariedade. Por isso, o cristão de qualquer Igreja, que for comprometido com sua fé deve estar atento e preocupado com tudo o que produz pobreza: a concentração de terras e rendas, a exploração dos trabalhadores, a destruição do meio ambiente, a corrupção, os privilégios da classe política e do poder judici& aacute;rio e a gestão do Estado em favor dos mais poderosos.

5 – Como a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que acontece em todo o mundo, contribui nesse sentido?
R- A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos baseia-se na fé que todos os cristãos têm no poder da oração feita com fé e perseverança. É o Concílio Vaticano II que nos orienta: “Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a graça da unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados: “onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). O Papa São João Paulo II, na encíclica “Ut Unum sint” reafirma que a oração fe ita por fiéis de diferentes Igrejas é “um meio muito eficaz para impetrar a unidade” (...). Mesmo quando não se reza formalmente pela unidade dos cristãos, mas  por outros motivos como, por exemplo, pela paz, a oração torna-se, por si própria, expressão e confirmação da unidade”. O próprio Cristo rezou pela unidade dos seus seguidores. “Pai, que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos”. É certo que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas não resta dúvida que em termos de unidade entre os cristãos já demos grandes passos. A oração foi e será impres cindível neste processo, no qual a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos ocupa um lugar de destaque.


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